domingo, 9 de maio de 2010

Brasil, o país onde a honestidade mata

Conheci um homem sobre o qual não me canso de pensar, seja como exemplo de vida, de capacidade, de honestidade ou de patriotismo.

Uma pessoa tão à frente de seu tempo que já no ano de 1963, quarenta e sete anos atrás, implantou, na propriedade rural de sua família, um sistema de bombeamento de água através de um conjunto de rodas d’água, até o ponto mais alto da mesma, de onde caía, por gravidade, para onde fosse necessário, podendo assim melhor aproveitar a propriedade com mais divisões de pastos, todas com água para o gado, o que ainda hoje estamos fazendo.

Um industrial tão competente que, aos 34 anos, observado e admirado por influentes membros da sociedade local, foi pressionado para se envolver politicamente na cidade, o que nunca havia feito. Candidatou-se então a prefeito, apoiado pelos mais importantes políticos da época, como Juscelino Kubitscheck, Ademar de Barros e Carvalho Pinto, e sua vitória foi tão esmagadora que a soma dos votos dos outros quatro candidatos não atingiu a metade daqueles por ele obtidos. E olha que entre os concorrentes derrotados estava o maior cacique político regional da época, que já havia sido prefeito da cidade por outras três ocasiões.

No primeiro ano de sua administração já foi testado, com um temporal que praticamente destruiu e isolou a cidade, derrubando pontes e destruindo ruas e estradas que ligavam o município a outras cidades.

Como prefeito, bateu de frente com a elite local, ao exigir, até judicialmente, o pagamento dos impostos territoriais daqueles que só tinham imóveis para especular e nunca pagavam os tributos devidos. Exigiu o pagamento da água, que praticamente ninguém pagava, cortando-a daqueles inadimplentes, inclusive, para dar o exemplo, da indústria da família, agora em mãos de um administrador contratado que pensava não precisar pagar, pois ninguém pagava e, além disso, o prefeito era um dos donos. A indústria, que na época já possuía cento e vinte funcionários, ficou sem funcionar até pagar a água devida.

Um homem tão trabalhador e honesto com o patrimônio público que, como a prefeitura estava sem crédito, adquiriu, com seu aval particular, máquinas e implementos para a mesma e, com dinheiro de seu próprio bolso, equipou a polícia civil e o corpo de bombeiros local com viaturas, financiando ele mesmo esses veículos à prefeitura, para que o dinheiro lhe fosse devolvido em diversas parcelas mensais, algumas pagas pela prefeitura à própria família, após sua morte.

Ao assumir a prefeitura, fechou-a por uma semana, tempo em que fiscalizou, pessoalmente, todos os departamentos, prédios e salas da mesma, apresentando-se a cada funcionário e aproveitando essa vistoria para demitir todos os funcionários que, lotados em determinado departamento, lá não possuíam sequer mesa de trabalho e não conseguiam justificar o que faziam, os hoje chamados funcionários fantasmas.

Com essa competência, determinação, e respeito pelo dinheiro público, foi assassinado antes de completar dois anos como prefeito. Esse foi meu pai, a quem devo tudo o que sou, o que tenho, e todos os meus princípios, sejam profissionais, morais ou éticos, e que muita falta me faz, pois com certeza muito mais me ensinaria e me serviria de exemplo.

Pena que o Brasil continue assim, mesmo passados quarenta e cinco anos, afastando da política os homens de bem e elegendo a corja, como parece que faremos novamente.

João Bosco Leal
www.joaoboscoleal.com.br


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