sexta-feira, 7 de maio de 2010

O FENÔMENO DAS DIFICULDADES EMOCIONAIS

Compreendemos as queixas psicológicas como sintomas que expressam problemáticas existenciais em função dos relacionamentos humanos. A problemática emocional faz sentido, levando-se em conta os contextos da vida individual e da vida coletiva da qual emerge. Nesta linha, torna-se relevante considerarmos o imaginário coletivo, concebido no meio ambiente, que é o seio onde os problemas surgem.

Para tentar entender os problemas emocionais resgatamos a teorização psicanalítica de Bleger, que trabalha com o conceito de conduta de modo muito diferente daquele adotado pelos comportamentalistas, definindo-a como manifestações humanas dotadas de sentido emocional, que tem lugar em contextos pessoais, sociais e históricos. José Bleger é um dos expoentes do pensamento psicanalítico da América Latina. Desde o princípio seu trabalho tenta se ater aos elementos concretos para a práxis da psicanálise.

Segundo Bleger, o ser humano é estudado por várias ciências, tais como a História, Antropologia, Filosofia, Sociologia e Psicologia. Com respeito à psicologia, podemos dizer que estuda os seres humanos reais e concretos. Bleger define certa especificidade para o objeto de estudo da psicologia, afirmando que não reside em estudar a alma ou a psique, mas sim em estudar intersubjetivamente os fenômenos da conduta, que podem se expressar em três áreas: mente, corpo e atuação no mundo externo. Os fenômenos mentais não causam os demais, bem como os fenômenos corporais não são causa de fenômenos mentais, já que sua visão é dialética e se diferencia daquelas correntes que estudam o homem segundo um paradigma positivista, que é sempre objetivante e mecanicista. Deste ponto de vista, perdem importância investigações que isolam o ser humano do seu contexto ou tratam suas manifestações de modo desconectado de sua natureza humana e do ambiente social.

O homem é um ser que nasce na cultura, pertencendo a determinada classe social, a um grupo étnico e religioso. Consequentemente, coexiste na cultura incorporando e organizando experiências com os demais indivíduos, sendo o conjunto das relações sociais o campo em que o indivíduo se constitui em sua personalidade e onde surgem os problemas emocionais. Os quais manifestam-se simultaneamente na mente, de modo consciente ou não consciente.

Deste modo, a conduta humana está em constante vir-a-ser, fazendo parte de um processo dialético, multiforme e contraditório, com base no materialismo dialético que sustenta que todas as pessoas estão em permanente interdependência com o mundo externo, de tal maneira que não há fatos isolados e a influência que se dá entre eles é uma permanente ação recíproca. Este movimento é o modo de existir, de tal maneira que tudo muda e se transforma, nada é estático, e o movimento torna-se criador. Essa ação recíproca é o processo dialético que prevalece na existência humana, em permanente luta ambivalente e com uma diversidade de manifestações infinitas.

As manifestações humanas são condutas que aparecem em três áreas: mente, corpo e mundo externo. Uma manifestação mental da conduta, por exemplo, pode ser um sentimento de inadequação pessoal, relacionado a uma baixa auto-estima; já a manifestação no corpo pode se dar através de dores de cabeça constantes; e, a manifestação da conduta no mundo externo, pode ser não crescer participar da vida social ou não crescer profissionalmente.
O pensar ou imaginar (condutas da mente) não podem se dar sem a coexistência de manifestações no corpo e no mundo externo.

Assim, é correto dizer que o sofrimento humano também pode se manifestar no corpo através de sintomas e todos os sintomas apresentam motivações inconscientes, uma das principais descobertas de Freud que influencia fortemente as práticas psicológicas clínicas. Dessa forma, o sofrimento emocional que se expressa no cotidiano não é determinado só pelo funcionamento fisiológico, mas por determinados contextos sociais e históricos, uma vez que os sintomas surgem de situações concretas na vida das pessoas.

Paulo César Ribeiro Martins
Professor da UEMS/FIPAR/AEMS
Doutor em Psicologia pela PUCCAMP

Nenhum comentário: